sábado, 16 de julho de 2011

Felicidade e Saúde

Felicidade faz bem para a saúde. O que era uma assertiva da sabedoria popular virou prescrição médica desde que uma série de artigos, que datam desde a década de 80, demonstraram efeitos benéficos de estados relacionados ao que chamamos felicidade, como o sorrir alegremente, o viver sem preocupação com o dia de amanhã, planejar o futuro com otimismo, ter uma rede saudável de amigos reais ( e não virtuais, como o que ocorre com as redes sociais da internet).
            Na década de 80 uma série de pesquisas iniciadas na UCLA, Universidade da Califórnia em San Francisco, demonstrou a íntima relação entre estados de humor e sistema imunológico, mediado pelos neuropeptídios, que se encontram por todas as regiões cerebrais. Relações entre queda imunológica e depressão, mediados por transmissores celulares, chamados citoquinas e interleucinas, e hormônios, como o CRF (Fator Liberador de Corticotropina) foram demonstrados e uma nova disciplina surgiu, chamada de Psiconeuroimunologia.
            Entre os estudos da UCLA, um testou o efeito de sorrir-se alegremente. No momento da gargalhada realmente feliz, os níveis dos chamados hormônios do estresse, e assim são chamados porque são mediadores das reações inflamatórias do estresse, caem abruptamente, o que provou que sorrir alegremente traz benefícios sobre a saúde.
            Alcançar a felicidade é um roteiro mais que filosófico ou metafísico. É uma construção árdua, contínua, cujo êxito se obtém após muitas frustrações. Em verdade, podemos dizer que sem frustrações não há felicidade.
            Sigmund Freud foi o grande estudioso da alma humana. Em um texto extremamente bem elaborado, “Muito Além do Princípio do Prazer”, o neurofisiologista vienense relata que (por instinto) somos levados, desde a infância, à busca da satisfação de prazeres, que vão desde a relação com os esfíncteres à satisfação dos impulsos sexuais. E essa pulsão não tem fim, exceto se contrariada por frustrações, e são as frustrações que permitem desde simples ordenações sociais às mais complexas, desde a vida em um pequeno grupo ao relacionamento pacífico entre povos e culturas distintas.
            A proposta de Freud foi reavivada com os estudos da moderna neuroimagem funcional, que é o estudo das imagens cerebrais, através de aparelhos sofisticados, capturando um momento de estabilidade, como também após um estímulo específico.
            Um estudo de neuroimagem funcional muito ilustrativo foi apresentado por João Ascenso nas V Jornadas Portuguesas de Medicina e Espiritualidade, em Maio de 2010 e também em Junho de 2011, no Congresso Médico Espírita do Brasil. No estudo apresentado por Ascenso, os sujeitos pesquisados receberam dois tipos de estímulos, um de recompensa que foi imaginarem que ganharam uma fortuna, o outro, de frustração, foi de imaginarem que a fortuna não ficaria com eles. Nesse segundo estímulo, os sujeitos tiveram duas opções, ou doariam tudo o que tinham para uma entidade filantrópica ou deixariam que tudo se perdesse. Analisando as imagens neurofuncionais por ressonância magnética, o autor do estudo apresentado por Ascenso, M. Benchimol, percebeu que quando as pessoas eram estimuladas pela recompensa, ativavam áreas cerebrais correspondentes a estruturas básicas e instintivas, o mesmo se dando quando ocorria a frustração com a opção de perderem tudo e não doarem. Todavia, os sujeitos do estudo que optaram por doar a recompensa, ativavam áreas cerebrais correspondentes aos lobos pré-frontais.
            A região pré-frontal do neocortex é a área das realizações superiores, segundo informação do espírito André Luiz na obra psicografada por Chico Xavier, No Mundo Maior, na década de 1950. Os estudos modernos comprovam que essa região cerebral é estimulada pelas pessoas que se sentem felizes.
            Outro dado interessante é que esses achados são compatíveis com a proposta de Mario Beauregard em seu livro O Cérebro Espiritual. O pesquisador canadense, da Universidade de Montreal, obteve o mesmo tipo de imagens, mas após modificação do padrão cerebral por terapia, efeito placebo ou estado de atenção sobre si mesmo, ou mindful state.
            Para obter esse tipo de padrão de neuroimagem, correspondente à ativação de regiões cerebrais que equivalem a estados de felicidade, uma frustração anterior teve que ocorrer, ou seja, a intenção deliberada de modificar-se o estado mental anterior, ou ir muito além do princípio do prazer , como disse Freud.

sábado, 2 de julho de 2011

Depressão, uma abordagem médico-espírita


Entender Depressão enquanto doença não é uma tarefa fácil. Isso porque o termo Depressão descreve uma manifestação comum a uma série de alterações bioquímicas cerebrais diferentes entre si, que dão as tonalidades, ou a falta delas, à doença.
            Existem tipos principais de  manifestações da Depressão, a Depressão Maior, que é caracterizada pelo impedimento quase total, quando não pleno, do paciente, que interrompe suas atividades e relacionamentos normais, tem alteração do padrão de sono e do apetite, perda da libido, ou seja, a perda do prazer de viver. Outro tipo comum de manifestação é a Distimia, que é um quadro arrastado de Depressão, ou seja, o paciente tem humor deprimido, irritado, que se arrasta por anos, afetando também seu sono e o prazer de viver.           Outros tipos de Depressão também importantes são a Depressão Psicótica, onde a doença se confunde com outros transtornos mentais pela presença de delírios e alucinações, ou seja, além da depressão o paciente apresenta medo patológico, descreve que ouve vozes ou relata como real um fato que não ocorreu senão em sua mente. E também a Depressão Pós-Parto, que ocorre após o parto, ou mesmo durante a gestação.
            Várias doenças orgânicas podem desencadear Depressão, que se torna secundária, ou decorrente dessas doenças. Entre as doenças que podem provocar Depressão, as mais frequentes são todos os tipos de câncer, diabetes, AIDS, Hipotireoidismo, Doença de Parkinson, doenças cardíacas como Insuficiência Cardíaca e doenças pulmonares crônicas, como o Enfisema e a Asma.
            A doença tem um custo elevado. Estima-se custo anual de 83 bilhões de dólares nos Estados Unidos e 113 bilhões de euros, na Comunidade Européia. No Brasil, os custos não são menores pois a incidência de Depressão entre brasileiros é equivalente à incidência no restante do mundo.
            Outro custo da Depressão não tem preço, é a incidência aumentada de suicídio entre as pessoas com Depressão de todos os tipos e formas. Karl Heirich Fierz, psiquiatra suíço (Fierz, K.H., Psiquiatria Junguiana, 1997, Editora Paulus), afirma que o suicídio, ou sua tentativa, pelo paciente com Depressão deve ser entendida como o desejo de renascimento, como o mito da fênix, a ave egípcia que mergulha no fogo e renasce das cinzas.
            Quando olhamos o risco de suicídio por grupos de faixa etária de pacientes com Depressão, o grupo de maior risco é o dos idosos, com idade superior aos 80 anos e não o grupo de pacientes adultos jovens. Outro grupo de pacientes que merece atenção é o grupo mais jovem, dos adolescentes, onde o risco de suicídio também é considerável.
            Finalmente chego ao que me proponho neste texto, o que a abordagem médico-espírita tem a oferecer ao tratamento complementar da Depressão. Na questão 943 de O Livro dos Espíritos (Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, ed, FEB), o desgosto pela vida é analisado como causado por três grandes fatores, a ociosidade, a falta de fé e a saciedade.
            A finalidade de todo trabalho, toda atividade do homem, deve ser o benefício para si próprio mas também deve beneficiar seu próximo, assim alcançando a sociedade. Todo trabalho que visa somente a si mesmo, é considerado trabalho inútil e como uma ociosidade, segundo a interpretação espírita das leis divinas. Mais que isso, o trabalho deve ter uma finalidade útil e ser realizado conforme a aptidão de cada um. Desenvolver as aptidões naturais da pessoa, envolve-la no desempenho dessas aptidões para o benefício do próximo e de si mesmo é um dos pontos que devem ser considerados no tratamento da Depressão.
            Marino viveu na Argentina até os 21 anos, quando mudou-se para o Brasil e fez carreira como pintor de imóveis. Aos 42 anos entrou em crise depressiva grave, iniciou tratamento e, nas consultas médicas, declarou que sempre trabalhou para seu sustento e de sua família mas nunca fez o que gostava, o que realmente seu espírito pedia, que era cozinhar. Estimulado a exercer a atividade ao menos uma vez por semana, integrou-se em um grupo que serve alimentos aos moradores de rua, sendo o responsável pela cozinha das atividades dos sábados. A resposta ao tratamento da Depressão foi extremamente positiva após Marino doar algumas horas como cozinheiro em auxílio a pessoas carentes.
            A falta de fé não se expressa na ausência de religiosidade. Falta de fé começa por perder-se a fé em si mesmo, em se desencorajar de viver. Nasce geralmente da perda de algo valioso, na infância ou em vidas passadas, que é evocado por um episódio simbolicamente equivalente, quando da manifestação da Depressão.
            Paula tinha 7 anos quando sua mãe pulou da janela do apartamento, localizado no 6º andar do edifício. Aos 20 anos apresentou quadro de Depressão Maior, de difícil tratamento. Não saía de casa, recusava-se aprender a dirigir por sentir-se incapaz e pensava em abandonar a faculdade. Com muita resistência, conseguiu relatar à sua terapeuta a morte de sua mãe e o que realmente sentiu. Foram momentos de muita dor. Após 12 semanas já conseguia sair de casa para atividades prazerosas, como ir ao cinema. Passou a acreditar mais em si mesma e matriculou-se em auto-escola. Continuou seu curso na faculdade.
            Saciedade é a perda da sede de viver, a perda dos motivos que nos mantém vivos por considerarmos que já nos saciamos de todos eles. Paradoxalmente, a saciedade nos leva a uma situação de busca contínua de algo diferente, algo que nos motive. É decorrente do materialismo, que impede o homem de enxergar além da realidade imediata.
            Eudes convenceu-se de procurar o médico após insistente pedido de sua esposa. Foi realizado diagnóstico de Distimia e iniciado tratamento mas uma peculiaridade chamou a atenção na consulta, Eudes tinha necessidade de comprar compulsivamente, para encontrar algo que o fizesse descobrir motivo para viver, mas a cada compra sentia-se como aquela sensação de ter comido em exagero e continuar buscando algo diferente para dar um novo gosto na boca. Estava endividado e não teve outra solução senão vender um dos carros da casa. Isso o fez acompanhar sua esposa em uma atividade voluntária semanal, onde servia como voluntária em um hospital pediátrico. Em menos de um mês Eudes integrou-se com o grupo e experimentou satisfação em estar vivo.
            Depressão é uma doença, deve ser tratada sempre, jamais deve ser considerada uma doença de fundo moral. Tentar entendê-la em uma abordagem ampla, como a oferecida pelo modelo médico-espírita, é abrir novas possibilidades ao tratamento complementar dessa grave doença.

A vida que vai além da vida


O último paciente do dia que se tornara quase noite entrou no consultório com passos curtos e respiração abreviada pela dispnéia. Tinha o abdômen bastante volumoso pelo líquido que extravasou dos vasos, tornando a cavidade um repositório chamado de ascite. Em fase terminal de câncer, ainda tinha o cuidado de cuidar de outros problemas de saúde, entre eles a disfunção da tireóide.
Como se fosse inevitável para o momento e situação surgiu a pergunta fatal _ “O que a Medicina tem a dizer do momento da morte, devo  me preparar para o nada?” Não perguntava a opinião do médico, eivada das crenças e convicções pessoais, mas a visão da ciência chamada por Hipócrates de Arte de Curar.
Uma década se passou desde a publicação do artigo do Dr. Pin Van Lommel pela prestigiosa revista médica inglesa The Lancet, o qual estudou a prevalência e as consequências da Experiência de Quase-Morte após parada cardíaca, sobre uma população de 10 hospitais da Holanda.
Experiência de Quase-Morte? Foi com assombro de desconhecimento que essa pergunta me foi endereçada por um médico residente, em uma conversa informal sobre o trabalho do Dr. Van Lommel. Experiência de Quase-Morte foi o termo utilizado para descrever lembranças que retornam à mente de pessoas que passaram por situações extremas, entre elas afogamentos, acidentes graves, hipotermia e parada cardíaca. A Experiência de Quase-Morte surge de modo espontâneo nessas situações e, o que é interessante, é que as pessoas que passaram por tal condição descrevem um quadro muito parecido _ sentem-se fora do corpo, alguns são capazes de enxergar o próprio corpo, depois são conduzidos a um túnel escuro , por onde caminham, até encontrarem uma luz brilhante, onde sentem uma espécie de expansão da consciência e encontram familiares, pessoas queridas, alguns descrevem a presença de anjos ou seres celestiais. Repentinamente são convidados, ou induzidos, ou forçados a voltar ao corpo, onde acordam da morte.
O mais impressionante da Experiência de Quase-Morte, que vou passar a chamar agora de EQM, é que a imensa maioria dos que por ela passaram tem a sua vida profundamente modificada, porque os valores de antes são substituídos por outros, com marcante devoção à vida e às conquistas subjetivas, como felicidade e bem estar de si e do próximo.
Os cientistas que estudam a EQM tendem a justifica-la pela anoxia cerebral, ou falta de circulação cerebral no momento da experiência. Na visão dos que defendem tal postulação, a anoxia cerebral seria responsável pela ocorrência quase uniforme de manifestações, como a entrada no túnel e o enxergar as luzes.
Nos casos estudados pela equipe do Dr. Van Lommel, 61 ao todo, a EQM ocorreu quando o coração parou de bater, ou seja, havia morte clínica, o cérebro não poderia registrar mais nada, tecnicamente falando.
Além do argumento que o paciente estava morto no momento da EQM, fatos curiosos cercaram os relatos de vários pacientes do Dr. Van Lommel. Em um deles, a dentadura de um paciente foi retirada de sua boca quando o monitor cardíaco fez soar o alarme que o coração havia parado. Dois dias após ter sido ressuscitado, o paciente pediu de volta a dentadura, causando certo constrangimento à equipe de enfermagem que julgava te-la perdido. Eis que o paciente então avisa à enfermeira responsável que quando retiraram a sua dentadura para colocarem o tubo oro-traqueal, uma outra enfermeira, que usava óculos e era de estatura baixa, havia retirado sua dentadura, embrulhado com gaze e guardado na gaveta de determinado armário. Para espanto de todos, a dentadura foi encontrada no local indicado e a citada enfermeira confirmou que, aos cinco minutos de parada cardíaca, antes da entubação, retirou os dentes do paciente e os guardou.
Outro caso inusitado foi o de outro paciente que, horas depois de retornar da parada cardíaca pergunta ansioso pela adolescente que fora atropelada na porta do hospital e para a Emergência conduzida. Eis que realmente houve atropelamento e uma adolescente dera entrada no serviço de Trauma do hospital, mas o horário de ocorrência era exatamente o mesmo em que o paciente estava clinicamente morto e recebendo assistência médica.
O que o Dr. Lommel questiona ao final de seu artigo é a impossibilidade de localizar a consciência no cérebro. A EQM é uma prova inconteste que o cérebro é instrumento da consciência e não sua sede.
A Medicina ainda interroga casos como os de EQM, tentando encontrar uma resposta no cérebro, argumentos esses muito pequenos para explicar a multiplicidade de fatos que ocorrem quando o paciente está clinicamente morto. Mas ainda a Medicina se contorce para não assumir que todas as evidências que a EQM oferece devem dizer ao paciente próximo à morte que, ao atravessar a fronteira da vida no corpo, uma nova forma de vida acontece, a vida que vai além da vida.
Se você passou por Experiência de Quase Morte, não hesite em me enviar um email.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

De Onde Vem o Pensamento? texto final

Um compêndio de Medicina de 2 volumes foi a obra final do emérito e grandioso professor Dr. Ian Stevenson e tem como tema Biologia e Reencarnação. Não se trata de uma especulação teórica, mas uma série de evidências científicas, criteriosamente pesquisadas, de crianças que não apenas lembraram-se espontaneamente de vidas passadas, mas também apresentavam marcas de nascença correspondentes ao mecanismo da morte das encarnações que se recordaram.
Anteriormente, esse tipo de evidência foi chamada de memória extra-cerebral, uma tentativa de mostrar que o que era evocado como memória não poderia estar contida no cérebro físico.
O cérebro armazena fatos que vivenciou? Pessoalmente ainda tenho convicção do cérebro apenas como instrumento, capaz de transmitir as memórias e pensamentos que vivenciou, mas também de fatos inusitados, como os que foram pesquisados pelo Dr. Stevenson.
Quem armazena a memória? Qual a fonte e a origem do pensamento?
Dr. Ian Stevenson mostrou que a Consciência não apenas sobrevive à morte como é capaz de gerar novo corpo, ou seja, é capaz de reencarnar-se. É a Consciência, ou em linguagem direta, o Espírito, que retém a memória e transmite ao cérebro, mais ainda, é o Espírito quem produz a vida e determina os fatos que chamamos realidade.
De onde vem o pensamento? Posso responder _ da Consciência, do Espírito.

terça-feira, 3 de maio de 2011

De Onde Vem o Pensamento? texto 3

Final de tarde, quase noite de uma terça-feira já longínqua mas ainda próxima o suficiente de minha memória. Éramos adolescentes, meu irmão mais velho confiou-me um segredo de momento _ sairia com uma namorada e para isso usaria o carro de nossa mãe. A noite escureceu a tarde e trouxe consigo extrema aflição a minha mãe, que, incomodada ao extremo, confidenciou que sabia que o filho mais velho estava em perigo. Levantou-se e recolheu-se em oração. Passada uma hora, meu irmão chegou assustado, uma hora passada estava ele sob a ameaça de um homem armado, uma tentativa de assalto.
Assim como minha mãe, inúmeras outras mães tem esse tipo de pressentimento. Tanto que o Dr. Ian Stevenson publicou, na década de 70, um trabalho científico sobre mães que pressentem o que ocorre com os filhos.
O cérebro é capaz de receber e processar informações oriundas de outras mentes, é o que mostra a pesquisa do Dr. Stevenson e é o que muitos sabem por vivência própria.
Mais uma vez a pergunta se faz _ de onde vem o pensamento? Agora fica claro que o cérebro tem a capacidade de emitir e receber ondas e isso mostra que a mente não é material. Os sentimentos e as emoções chegam organizados ao cérebro receptor e não dependem do continuum espaço-tempo _ quem leu o texto anterior vai se lembrar da experiência do meu amigo Giovane.
Podemos dizer que já podemos afirmar de onde vem o pensamento, mas fica para a próxima postagem.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

De Onde Vem o Pensamento? texto 2

Yuri olha para determinado ponto de uma tela, com a intenção de escrever um texto, e imediatamente as letras se juntam de modo coordenado, seguindo a intenção do operador, que usa, conectado ao computador, uma espécie de sensor, que "entende" o que o cérebro deseja. A precisão é próxima de 70%, os criadores do invento sentem-se exultantes porque pessoas paraplégicas poderão voltar a escrever.
"A base de tudo isso é saber ler o impulso cerebral, o que o cérebro pensa", disse um dos cientistas envolvidos com a experiência.
Que o cérebro envia impulsos elétricos é conhecido há mais de 100 anos. Cada ação motora é precedida por um estimulo cerebral, de áreas específicas a depender do movimento. Enxergar uma letra e querer colocá-la na tela gera um impulso motor que pode ser agora "lido" por um aparelho e executado. Daí a pensar que o cérebro é o gerador do pensamento e não seu instrumento, vai uma distância. O que a experiência mostra é que esse instrumento gerador de impulsos, de ondas eletromagnéticas, chamado cérebro humano, quando movimentado pela vontade, gera reações específicas que podem ser lidas e traduzidas em ação.
De frente para mim, Giovane reteve em suas mãos um crucifixo no estilo bizantino, quando repentinamente descreveu o momento em que a peça de ouro me foi dada de presente, acertando com exatidão o nome de minha avó e o motivo da graça _ minha formatura em Medicina.
Quem deu a Giovane as informações que ele me trouxe? De onde vieram os pensamentos que dissecaram a história daquele objeto? Do seu cérebro? Como poderia justificar esse fato, de saber o que se passou sem que estivesse presente?
De onde vem o pensamento?

De Onde Vem o Pensamento?

A Ciência Médica predominante, que é aprioristicamente materialista e, por isso, obtusa e resistente em abrir a visão para outras formas de enxergar o homem, enxerga o cérebro como fabricante dos pensamentos.
Os argumentos para tal afirmação baseiam-se em análises evolucionistas, antropológicas e dos recursos da moderna Neurociências. Assim conseguem perceber que os neurônios se arranjam de forma a permitir que as sinapses se distribuam de holotropicamente e permitam que o cérebro tenha regiões específicas para determinadas reações (emoções ou sentimentos). É o que mostram as imagens de neuroressonância funcional _ brilha o córtex pré-frontal quando o estímulo é meditação ou canto religioso, ruborizam-se as amigdalas quando o estímulo é a raiva.
Mas o fato de o cérebro ser ativado por determinados estímulos significa que essa ativação se originou dele mesmo, que ele gerou os pensamentos que reagiram como emoções/sentimentos?
A razão diz que não,e não é difícil perceber que o cérebro é só veículo, só instrumento.
É o que mostraremos nos próximos textos. Aguardem!

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O Verdadeiro Culpado

           Os olhos de Beatriz na tarde de dois de julho eram feitos de lágrimas, cristalinos de dor e decepção, juntavam-se aos olhos de centenas de milhões de brasileiros a lamentarem a precoce eliminação da seleção da Copa do Mundo.
            Milhares de análises foram feitas, o patente desequilíbrio do time contrastante com o bom futebol do primeiro tempo nunca terá explicação, mas logo foi apontado um culpado, Felipe Melo. É meu dever de brasileiro pedir a todos, não culpem Felipe Melo, a derrota do Brasil tem um responsável e o nome dele é Mick Jagger.
            Muitos anos atrás fui à biblioteca da PUC-Rio em busca de um tesouro, um livro esgotado de Lèvi-Brhull. Com a devida orientação da bibliotecária, percorri corredores formados por estantes repletas de livros até chegar a uma mesa no fundo do grande salão, lugar iluminado por pequena janela próxima do teto muito alto da edificação, o que me fez sentir como em um filme holiwoodiano, um verdadeiro Indiana Jones do sertão em pleno litoral brasileiro. Mas atrás daquela mesa estava alguém maior que o próprio Jones, talvez a fonte oculta de inspiração de Spielberg para a criação do personagem.
            Frei Extensum, esse era seu nome, pelo menos foi como se apresentou, inicialmente ralhou comigo por desejar ler um autor não mais lido, apenas citado e impôs-me uma sabatina para saber se deveria ou não liberar-me a obra. Concluiu que eu não era a pessoa indicada para aquele livro, mas me convidou para um café em uma minúscula sala, fora do prédio da biblioteca, no fundo de pequena capela dentro da PUC.
            O café frio de cafeteira devia ter uma dezena de horas, mesmo assim o frei o apreciou com gosto e tive que aprender a contorcer os músculos faciais para transformar a expressão de asco em satisfação mas enquanto isso me contou sua vida de antropólogo entre os nativos malawee, na Tailândia e como ele aprendeu algo mais que Lèvi-Brhull. Pegou um livro com capa de couro, na verdade um caderno de anotações, mas antes contou-me sobre uma tradição daquele lugar distante e exótico. O Supremo Imperador do Mal possuiria agentes na Terra que teriam por objetivo atender aos pedidos que os homens não ousariam pedir a Deus. Esses agentes seriam reconhecidos pelo jeito peculiar de suas faces e de seus sorrisos, que os tornam à feição do curinga dos baralhos.
            Enquanto me contava a tradição e saboreava seu café frio, o frade sorria muito e me disse ao final, com voz muito grave, que apenas deveria revelar essa história quando muitas lágrimas corressem por obra desses agentes do mal. Abriu o caderno com capa de couro e mostrou alguns desenhos e formas geométricas para reconhecer esses agentes, me passando as medidas exatas. De imediato, no exercício em que fui iniciado pelo frei antropólogo, logo reconheci os dois principais agentes na Terra, William Dafoe e Mick Jagger.
            Copa do Mundo da África, experiência vibrante para milhões de adolescentes que eram crianças em 2002, esperança de título para o Brasil. Antes do jogo das quartas com a Holanda, na platéia de Estados Unidos e Gana, a imagem de Mick me fez tremer, ele estava lá, na África do Sul, certamente para espalhar o mal na forma de azar, desequilíbrio, derrota!  Ao lado do presidente Clinton (uma vez presidente, sempre presidente!), seu sorriso contagiou de azar o selecionado americano e foram derrotados pelo selecionado africano.
            Liguei para treze amigas católicas devotadas, todas elas com idade superior a setenta anos e pedi que rezassem treze terços até a sexta-feira, seria uma forma de neutralizar a possibilidade de Mick torcer para o Brasil e com isso contagiar também  nosso selecionado. Uma delas não me atendeu, estava adoentada e substituta não havia naquele instante porque a próxima da lista completaria setenta anos no dia 11 de julho. Frei Extensum me ensinou que para neutralizar os efeitos desses agentes, apenas treze senhoras idôneas com setenta anos completos poderiam rezar os treze terços de salvação do mal malawee!
            Me desculpem, irmãos brasileiros, eu bem que tentei mas não foi possível. A maldição de Mick Jagger nos venceu e perdemos a chance do hexacampeonato de futebol. Mas tenho agora enormes esperanças, ontem à noite, com voz débil pela idade quase centenária, me ligou frei Extensum, tocado de extrema felicidade, Mick Jagger e William Dafoe participariam ativamente da campanha eleitoral brasileira, torcendo vibrantemente por Dilma Roussef, Deus seja louvado!

Histeria, experiências em um grupo mediúnico


           M., sexo feminino, 27 anos, casada, dois filhos. Trabalha como secretária em clínica médica, foi trazida ao Grupo das Terças, equipe de desobsessão do Sanatório Espírita de Anápolis, por seu empregador, médico, cirurgião plástico, espírita. Relatava história de início súbito, há menos de dois meses, quando passou a não apenas perceber vultos como perder o controle de si e “ser tomada”pelo espírito de uma prima desencarnada. Durante todos os dias de trabalho, nos últimos dois meses, seu patrão esteve mobilizado em auxiliá-la, não se detendo inclusive em abandonar o consultório para tentar socorro em casas espíritas que mantinham atendimento durante o horário comercial.
Em nosso grupo, quando diante dos médiuns, ao início do passe, logo modificava sua voz, contorcia os membros superiores e falava de modo aflito, por vezes agressivo, discurso de poucas palavras, que se resumiam em “Eu vou matá-la, vou trazê-la para cá”. Observei detidamente seu biótipo, seus movimentos corporais, seu discurso quando “incorporada”. Ao final da reunião, seu rosto era suave mas seu olhar não escondia a sensação de prazer realizado.
            Ao ser questionado pelo colega médico e patrão de M. sobre o caso por ele considerado como mediunidade ostensiva, recomendei o uso de ansiolíticos e psicoterapia. Confirmei com ele a impressão inicial que M. estava com problemas conjugais sérios. Troquei o diagnóstico de mediunidade pelo de Manifestações Somatoformes, porque o termo Histeria soou agressivo a M.
            Na análise com o grupo, do caso de M. realcei os seguintes pontos que me indicaram o diagnóstico que fiz do caso a nós apresentado:
·      M. iniciou suas supostas manifestações mediúnicas de modo súbito mas no ambiente de trabalho, onde o patrão era espírita;
·      Estava com problemas conjugais sérios, sem apoio de sua família de origem para resolvê-los;
·      Em cada manifestação tida como mediúnica, recebia total atenção do patrão, que se estendia para além do horário de trabalho;
·      M. deu passividade apenas quando estava sozinha na sala de passes; sua manifestação se iniciou com movimentos de contorção do braço esquerdo, hiperpnéia, voz inicialmente gutural e poucas palavras. Não havia discurso lógico na passividade mediúnica, não haviam elementos para identificação de uma personalidade, mas fragmentos de discurso sem espontaneidade.
·      Havia verdadeiro prazer por parte dela ao final do passe, como se agradasse ao patrão.
As manifestações chamadas anteriormente de histéricas, atualmente agrupadas na classe das manifestações somatoformes, ainda confundem grupos mediúnicos, porque podem ocorrer em pessoas que inconscientemente buscam um ganho pessoal ante várias frustrações, bem como podem também estar presentes em casos de obsessão espiritual.
A casuística do Grupo das Terças, em casos de histeria, nos últimos dez anos, se deu apenas com casos a nós encaminhados como Obsessão ou “Mediunidade”.
Foram 4 casos de pessoas da comunidade, 2 de pacientes internados no Hospital Espírita de Psiquiatria. A distribuição entre os sexos foi 5 casos de mulheres e 1 caso de homem.
O caso masculino era de paciente com diagnóstico de Esquizofrenia Paranóide, internado para tratamento; os casos femininos não tinham diagnóstico psiquiátrico, exceto um caso de Dependência Química.
Dos casos da comunidade, todos eles iniciaram após sensação de perda, real ou imaginária, em 3 deles havia a suposta manifestação de um parente morto que queria levar sua vítima, mas sem que houvesse manifestação plena ou uma personalidade pudesse ser identificada. Em 1 caso, a manifestação era teatral, onde a pessoa relatava o que supostamente via no plano espiritual.
Dos casos da comunidade, apenas o que relatava visões do plano espiritual se engajou no movimento espírita e hoje trabalha como médium passista em uma casa.
Como conclusão, a histeria é diagnóstico infreqüente em nosso grupo, por trabalhar dentro de Hospital especializado. É manifestação incomum de mediunidade, suas manifestações são seguidas de ganho pessoal do sujeito, quer pela satisfação em poder agradar, quer pela mobilização que consegue atingir.

Feliz por um dia


           Hélio era pessoa de poucas palavras e quando as tinha, engolia o final de cada uma delas de modo que era praticamente incompreensível a sua fala. Talvez para compensar sua dificuldade, antecipava-se sempre às necessidades dos outros, assim não era preciso falar nada além de agradecer os inúmeros "muito obrigado" que ouvia o dia todo. Hélio também tinha uma história clínica, obesidade grave e doença coronariana que o coroara com pontes de safena _ interessante como aqueles que são submetidos a cirurgia de revascularização miocárdica apresentam o procedimento adotado de forma a dar a alteridade de um nome, 4 safenas e 1 mamária é o nome mais comum.
            Voltando à história clínica de Hélio, que era o que me interessava, avaliação detalhada de um cirurgião de cabeça e pescoço revelou um problema simples na conformação do maxilar inferior, a antiga mandíbula, que provocava falha na abertura da boca quando ele falava, problema que a Fonoaudiologia resolve em seu cotidiano, sem muitas dificuldades. Por que Hélio não teve esse benefício?
            "Nem sei o que profissão é essa doutor, sou homem da roça, criado com simplicidade e privação, não tinha jeito de procurar essa pessoa não", foi o que conseguimos traduzir do que falou Hélio.
            O laudo psicológico de Hélio demorou mais a ficar pronto. Ante a pressa da equipe, a responsável sumarizou: "Como ele engole palavras, comida e afetos, essa mistura explosiva trouxe subserviência, obesidade e infarto, o resto converso mais a frente".
            A proposta para o tratamento de Hélio envolvia também as necessidades sociais e a equipe de assistência social já havia realizado amplo levantamento da realidade do paciente, mostrado em curto tempo aquilo que era esperado _ moradia simples, participação em grupos sociais apenas de forma passiva, espírito de liderança ausente.
            Enquanto conhecia o que seria o Hélio em relação ao mundo que o cercava, mais curioso ficava sobre quem realmente seria aquele homem em relação ao seu mundo interno. Sabia de seu comportamento auto-destrutivo, a compulsão alimentar incontrolável, a frustração e mágoa de não ser reconhecido apesar de ser extremamente solícito, a dificuldade em expressar o que sentia porque nem falar corretamente sabia.
            Quase próximo da alta hospitalar de Hélio, um fato se deu. Visitadores voluntários, todos vestidos de roupas circenses e maquiagem de palhaços invadiram a enfermaria, enchendo de brincadeiras e alegria o ambiente sério e restritivo, repleto de sisudez renomeada de ambiente profissional.Hélio, ao ouvir o barulho alegre das pessoas, as brincadeiras e gargalhadas, pulou da cama sem dificuldades e se entregou de tal modo que cantou sem dificuldades e sem engolir palavras; se mostrou ágil, conversou com todos em volta, se soltou. Hélio se descobrira naquele instante. Buscou o estojo de maquiagem da equipe de voluntários, se pintou de palhaço e também usou uma peruca que lhe foi oferecida.
            A médica residente que acompanhou os movimentos de Hélio observou detalhadamente cada passo, cada momento e registrou no prontuário médico. Conhecíamos um pouco mais daquele paciente, e fez questão de me ligar.
            Hélio estava internado sob minha responsabilidade, caberia à minha equipe a sua alta e toda orientação e seguimento após a alta hospitalar. Mas logo soube que caberia a nós lavrar o desfecho final de Hélio. E assim morreu Hélio, feliz, no seu único dia de felicidade na terra.
 
Yoomp